Conversa com um vencedor

Por Viviane Shinzato

27 anos, formado em Letras pela Universidade Mackenzie (2009), José Roberto Vieira enfrentou todas as dificuldades para conseguir o merecido reconhecimento como escritor. Quando garoto era revoltado, se juntou com más companhias e estava longe de ser quem se tornou. Ele pode não ser famoso, nem reconhecido nas ruas, mas um dos motivos que o faz ter grande importância é a luta e a persistência para lançar seu primeiro livro.

O que lhe fez ter interesse em literatura?
Nunca fui de ler muito, na verdade só comecei a me interessar por livros lá pelos meus quinze anos. Um amigo foi me apresentando as coisas, mostrando o quanto era gostoso ler e eu fui me apaixonando. Quando percebi, já tinha um quarto cheio de livros e uma rinite alérgica…

Como decidiu fazer letras?
Foi com um professor do cursinho, acho que o nome dele era Abel. Uma excelente pessoa que sempre mostrava a mágica das Letras a seus alunos. Nutri grande admiração por este homem e acabei seguindo seus passos. Hoje sei que, apesar da inspiração, trilhei meu próprio caminho.

De que forma a Universidade contribui para a sua formação?
A Universidade te dá um conhecimento técnico muito útil, além de te apresentar um mundo novo. Graças a ela derrubei boa parte dos preconceitos e vícios linguísticos que possuía.
Todo esse conhecimento me ajudou a estabelecer as bases da carreira que eu queria seguir. A faculdade te dá os instrumentos, mas é você quem decide o que fazer com eles.

Quando decidiu escrever o livro? Conte um pouco sobre a obra.
Minha namorada havia me pedido um poema, coisa que eu fazia de vez em quando para ela. Não conseguia escrever nada, então, comecei a rascunhar um conto sobre um soldado que voltava para casa após a guerra. Aí o conto foi crescendo, ganhando personalidade e acabou gerando um mundo fantástico.
Nasceu aí o Baronato de Shoah, o primeiro romance pensado na estética Steampunk no Brasil.
O Steampunk é mais que um estilo literário, ele envolve a estética vitoriana de nosso mundo e o imagina numa linha temporal que jamais existiu. Pergunte a si mesmo: se as grandes (e malucas) invenções do começo do século tivessem perdurado até os dias de hoje, como seria nosso mundo? Máquinas a vapor, carros movidos a carvão, engenhocas malucas! Isto é Steampunk.
O Baronato de Shoah conta a história de Sehn Hadjakkis, um soldado de elite que, quando criança fez uma promessa à sua melhor amiga, Maya: casar-se com ela quando voltar de seu treinamento militar.
Depois de quatro anos ele finalmente tem a chance de cumprir esta promessa, entretanto, seu melhor amigo começa uma guerra civil no reino onde moram, e Sehn é a obrigado a escolher entre a mulher que ama ou à liberdade de seu povo.

Conte como foi a sua vida até chegar a escrever o livro.
Conturbada, eu era bem rebelde quando criança. Se não fosse a literatura, não sei se estaria vivo para escrever esta história. Me envolvi em más companhias, fiz muita besteira. Quando comecei a jogar RPG me afastei dessas pessoas e me tornei mais concentrado, menos brigão.

Como veio a inspiração para escrever?
Sempre gostei de épicos, como Senhor dos Anéis ou Conan. Passei boa parte da minha adolescência jogando RPG e videogames, então, um dia, comecei a rascunhar minhas próprias histórias. Tenho dezenas de cadernos velhos em casa, todos com histórias que comecei há muito tempo.
Um dia pretendo ler estas velhas páginas e recolher as que tem algum valor. Até lá, só tomo cuidado para não jogar nada fora.

Quais foram as dificuldades encontradas em seu caminho para chegar ao momento de escrever o livro?
Falta de oportunidade. O escritor brasileiro de fantasia não possui incentivo. As editoras não o procuram, os leitores preferem estrangeiros, a divulgação é ruim. Passei por tudo isso, mas acabei encontrando alguém que confiou em meu trabalho: a Editora Draco.

Que autores você admira e que tipo de livros costuma ler?
Pergunta difícil, sempre fui muito eclético. Comecei lendo a série Vaga-lume, depois fui para os clássicos, Machado de Assis, Guimarães Rosa. Então voltei para a fantasia, comecei a ler Tolkien, mas não parei aí.
Tenho uma lista de escritores preferidos: G.A Matiazs, Margareth Weiz, Tracy Hickman,Tolkien, Garth Nix, Homero, Steven Pressfield, Alan Moore,Vírgilio, Allan Poe, José Vasconcelos, Hakim Bey, Rafael Oliveira, Frank Miller, Bernard Corwell, Leonel Caldela, Helena Gomes.

Você pretende disponibilizar sua obra por internet? Como fará a divulgação?

Comecei divulgando-a pela internet e pelo twitter @baronatodeshoah, agora, com ajuda da editora, tenho enviado releases da obra para sites de literatura e comunidades.
Nós disponibilizamos o primeiro capítulo do livro gratuitamente no site Recanto das Letras.

Em meio aos tempos modernos você acredita na sobrevivência da indústria cultural, na área de livros e materiais impressos?
Uma não vai excluir a outra, não agora. Ainda é cedo para falar que o mercado impresso vai morrer ou ser esquecido. O que podemos dizer é que as editoras devem atentar para esta nova ferramenta e usá-la a seu favor.

Você pretende seguir carreira como escritor?
Com certeza, o Baronato de Shoah será meu primeiro livro. Mas já estou preparando outro, Éride, sobre os filhos dos deuses gregos vivendo em nossa época.
Em tempos como o nosso, em que a internet e a televisão são as principais e, muitas vezes, únicas formas de interação com os meios culturais.

Como você pensa a carreira de escritor?
A carreira de escritor é como a carreira de músico. Você não acerta sempre. O que quero fazer é dar o meu melhor a cada livro, sabendo que há um público que ainda tem tempo de ler, mesmo com a internet e a televisão bombardeando-o a todo instante. Os livros nunca morrerão.

Qual seria o público alvo do seu livro?
Pessoas que gostam de mundos fantasiosos, histórias incríveis e aventuras emocionantes. O público do Baronato de Shoah é aquele que tem uma mente aberta, que gosta de experimentar novas sensações e conhecer novos mundos.
Logicamente, a pessoa não precisa conhecer outras obras do gênero para entender o livro. Ele é autossuficiente, e você não precisará comprar continuações para entendê-lo: ele começará e terminará num livro só.

Que tipo de obras gostaria de desenvolver?
Sinceramente? Produzo aquilo que amo. Mas, se pudesse escolher uma obra já publicada, gostaria de ter escrito a saga “A Torre Negra” de Stephen King, é uma obra genial.

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